Notícias | 20 de agosto de 2015 07:51

Os Animais Sonham – A Neurociência Confirma

* Artigo de Gilberto Pinheiro

Parte da  Humanidade  que subestima os animais não imagina que eles sonham.  Sim, é verdade, eles sonham como todos nós!

Estudos à luz da neurociência confirmam tal afirmação e, de acordo com registros eletroencefalográficos, os animais durante a fase REM demonstram esta peculiaridade que é sonhar,  principalmente, ratos, gatos, cães, macacos, gambás, elefantes e também aves.

Estudos ainda não são conclusivos em relação a répteis mas com o avanço da Ciência, em breve tempo, teremos também tal confirmação, uma vez que seres vivos demonstram reações muitas vezes parecidas.  Se estamos com medo de alguma coisa, nos protegemos – os animais também.   Sentimos dor, temos sentimentos e emoções – os animais também! Não há mais dúvidas quanto a estas propriedades neles.

O tempo é o senhor da verdade e logo teremos a confirmação desta senciência em répteis também. 

Segundo a revista Neurobiology of Learning and Memory, tais pesquisas afastam todas as dúvidas em relação à capacidade de sonhos nos animais, confirmando que estes seres sencientes têm esta propriedade como todos nós.

Define também que embora a Ciência não conheça ainda toda a fisiologia da maior parte das espécies, os estudos confirmam tais peculiaridades em muitas espécies.

Esta fase do sono (REM) tem sido observada com certa facilidade nos mamíferos, manifestando-se aproximadamente a cada 90 minutos em humanos e em torno  de 25 minutos em alguns mamíferos.  

      SONO REM PODE SER PROCESSO FILOGENÉTICO EM ANIMAIS DE SANGUE QUENTE        

Michel Valentin Jouvet, emérito professor de Medicina Experimental da Universidade de Lyon, na França,  entende que o sono (REM) pode ser um processo filogenético relacionado aos animais de sangue quente.  Mas, ainda há muito a ser descoberto, inclusive, em répteis.

A filogenia estuda a evolução de grupos de organismos, no caso específico, animais, ou seja, a posição de cada animal em relação aos seus antepassados.

                  PESQUISADORES DO  MASSACHUSSETS INSTITUTE OF TECHNOLOGY 

Pesquisadores do MIT – Massachussets Institute of Technology  conseguiram manipular e entender o conteúdo do sonho dos ratos em laboratório.   Através de um sinal sonoro ativando memórias associadas a experiências vividas por estes animais em dia anterior, percorrendo labirintos em busca de comida, ensinando-os a seguir alguns destes sinais sonoros que indicavam a localização dos alimentos, chegaram a esta conclusão.  Desta forma, monitoraram suas atividades cerebrais, voltando a monitorá-las na fase de sono profundo. 

Também, pesquisadores da University College London concluíram que em relação a sonhar, os ratos reagem como nós nesta questão.  A neurociência está mostrando ao mundo que os animais têm senciência e, assim, modificar todo o entendimento em relação a eles. Eles sonham com lugares aonde desejam ir. Não são diferentes de todos nós, humanos, nesta particularidade.    

 

                           A QUALIDADE E QUANTIDADE DE SONO NOS ANIMAIS

A neurociência entende que a qualidade e quantidade de sono em animais é relativa e inversamente relacionada ao grau pelo qual as espécies lidam com o perigo predatório, no caso, espécies vulneráveis a predadores, por isso, pouco dormem.  Animais de grande porte também dormem pouco, tendo em vista o armazenamento  de alimentos, como elefantes vacas, jumentos, etc.             

                          REVISTA CURRENT BIOLOGY  – ratos são solidários entre si            

 Curiosamente, uma outra pesquisa nos convida à reflexão – a atitude de ratos, determinado momento, assemelha-se a de humanos, na questão ajuda ao próximo. Parece incrível, mas é verdade.

De acordo com estudo publicado na revista Current Biology ratos oferecem ajuda sem que isso implique qualquer tipo de benefício próprio.  Esta solidariedade entre eles surpreende a Humanidade. O mesmo ocorre com outros mamíferos e precisamos repensar nossos valores em relação aos animais.

Quando imagino que muitos humanos matam com requinte de crueldade, concluo  que estamos longe da evolução como um todo. 

            

                           PRECISAMOS REPENSAR NOSSAS ATITUDES SOBRE OS ANIMAIS 

Portanto, ilustres leitores, precisamos repensar nossas atitudes em relação à fauna. Nâo é mais aceitável que animais continuem a ser maltratados, sacrificados, vilipendiados em relação ao direito de viver.  Não é compreensível que sejam subjugados por humanos, como se fossem seres indesejáveis, nocivos à vida.

Precisamos aprender a respeitar a vida em sua alta complexidade e diversidade, afinal, se desejamos viver, por que impedir que outros seres vivam ou sejam manipulados ao nosso bel-prazer?

É axiomático respeitar a fauna em sua diversidade. Nâo é proposta alternativa, como se devêssemos ou não respeitar. É axioma, verdade inconteste, pois o ser humano sensato, ciente destes estudos reforma seu entendimento, educando-se para a vida.  Precisamos deste notável entendimento. 

À luz dos fatos acima, não cabe à espécie humana tirar vidas, especificamente, dos animais.  A caça, a pesca predatória ou esportiva, são atividades inferiores, assim como rodeios ou assemelhados, tudo que é destrutivo e provoca dor e sofrimento animal.   Rituais religiosos com sangue animal não é algo que se aceite como normal.  Que cultuem os santos, os orixás e, quanto a isso, não há problema.

Agora, quando se trata de sacrifício, o bom senso, o homem zeloso pela vida, o ser humano evoluído repudia tal sofrimento e acima da lei há o insólito amor que precisa ser incondicional e referência em nossas vidas e, com ele, vem a reboque o respeito a todas as manifestações de vida na Terra. O homem elevado entende assim e a Humanidade precisa assim entender.     

             UM NOVO ENTENDIMENTO A SER PROPAGADO NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES

Estamos ainda longe desta evolução, mas entendo que temos que trabalhar intensamente na conscientização de alunos em escolas e universidades.  Por isso, abraço a causa e estou constantemente nestes ambientes de luz, de conhecimento, tentando fazer a minha parte – mostrar aos alunos desde o ensino básico ao superior que os animais são seres sencientes e precisam viver com liberdade e dignidade.  

A vida é direito deles também e, inclusive, a Constituição Federal de 1988, através do artigo 225/1º/VII garante status de vida à fauna assim como a flora,  – proteger a fauna e a flora na forma da lei as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade.

Com este escopo jurídico poderemos mudar o cenário no Brasil em relação aos animais.  É dever do estado e de toda sociedade zelar por eles. Eu tento fazer a minha parte e, para mim, é irrevogável a defesa dos animais como tento defender, orientando, escrevendo, palestrando, tentando mostrar um novo caminho de que eles merecem viver  como todos nós. São seres fragilizados e precisamos defendê-los em quaisquer situações de perigo iminente de vida. 

Gilberto Pinheiro é jornalista, palestrante em escolas e universidades sobre a senciência animal, articulista de sites e jornais sobre o referido assunto