Jorge Bergoglio escolheu o nome Francisco pela doçura do santo que amava a natureza e protegia os animais. Ora, quem ama a natureza não pode deixar de amar o ser mais desprotegido e mais importante do reino animal: a criança. Num rápido debate público, o Papa Francisco disse que a criança tem que ser corrigida com dignidade e respeito. Logo as línguas maledicentes interpretaram como uma licença para bater em criança. Essa tentação à covardia, até mesmo os apóstolos tiveram e foram admoestados pelo Cristo, que afirmou o mesmo que disse o Papa: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus.”
É certo que Jesus não convida para seu Reino pessoas violentas e covardes, que, por terem sido ‘educadas’ na violência, tencionam reproduzi-la. A Palavra sempre foi na direção do amor e da misericórdia. Como bom Pai, acolheu o Filho Pródigo e não o tratou com violência. Ao contrário, fez para ele que voltava à maior das festas. A lição de violência apregoada por alguns violentos que cresceram com tapas e beliscões é facilmente apreendida por seres em processo de formação e desenvolvimento. Muitas dessas crianças que sobrevivem nas ruas experimentaram gestos de violência e a reproduzem.
Os maus pastores que buscam inspiração bíblica para justificar a violência contra crianças são aqueles falsos profetas que periodicamente aparecem para confundir os crentes. A Palavra é aquela destinada aos homens de boa vontade, e o caminho, a verdade e vida é Jesus, que é amor. Jamais o amor apregoaria atos de violência como correção. Há inúmeras passagens que demonstram isso. “Senhor, se houver nessa cidade 90 justos, ainda assim a destruirás?” “Não destruirei.” “E se tiver 50, 20, 10, 5, ainda assim a destruirás?” “Não destruirei.” É muito provável que diante de tanta insistência do Profeta que advogava o perdão, falsos pastores o teriam esbofeteado.
Criança é um ser criado à imagem e à semelhança de Deus, portanto agredir uma criança é o mesmo que agredir o próprio Deus. Não se admite nenhum tipo de violência contra um ser em processo de aprendizagem, nenhuma concessão pode ser feita. Deus é Pai, é sinônimo de amor. Todo pai ou mãe que quiser buscar o exemplo de compaixão, perdão, paciência, deve buscar na misericórdia e mansidão do Divino Mestre.
*Siro Darlan é desembargador do TJ e coordenador da Associação Juízes para a Democracia
Fonte: O Dia