Notícias | 29 de abril de 2016 17:58

‘Temos uma crise civilizatória em que falta compromisso ético para mudar modelo de desenvolvimento’, diz Marina Silva

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Para a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva o mundo vive uma crise civilizatória. Ela afirmou, nesta sexta-feira (29), no Congresso Mundial de Direito Ambiental, que é fundamental buscar um novo modelo de desenvolvimento para o mundo.

“Estamos em uma crise civilizatória, que se constitui de cinco grandes crises: econômica, social, ambiental, política e de valores. Mas uma dela tem uma repercussão muito maior sobre a maioria das direções dessa crise, a ambiental. Até podemos resolver a crise social e econômica, mas se não resolvermos a crise ambiental, estaremos prejudicando o futuro da humanidade e do planeta. Boa parte dos problemas que enfrentamos hoje no mundo já tem resposta técnica, o que falta é o compromisso ético de colocar as respostas técnicas que já encontramos a serviço do grande desafio de mudar o modelo de desenvolvimento”, disse.

Com organização de AMAERJ e AMB, o Congresso é realizado desde quarta-feira (27), no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O evento, promovido pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), reúne autoridades de 70 países.

Leia o discurso de Marina Silva:

“Ministros e magistrados nos ajudam a fazer a Justiça ambiental do nosso planeta. Vivemos um momento muito delicado, mas ao mesmo tempo instigante. Estamos em uma crise civilizatória, que se constitui de cinco grandes crises: econômica, social, ambiental, política e de valores. Elas se configuram uma crise civilizatória. Mas uma dela tem uma repercussão muito maior sobre a maioria das direções dessa crise, a ambiental. Até podemos resolver a crise social e econômica, mas se não resolvermos a crise ambiental, estaremos prejudicando o futuro da humanidade e do planeta.

Precisamos buscar um novo modelo de desenvolvimento para o mundo, que possa ser ambientalmente sustentável nas dimensões econômicas, sociais, ambientais, culturais e políticas. Uma boa parte das ações que precisamos levar a cabo é de natureza política. Boa parte dos problemas que enfrentamos hoje no mundo já tem resposta técnica, o que falta é o compromisso ético de colocar as respostas técnicas que já encontramos a serviço do grande desafio de mudar o modelo de desenvolvimento.

Já temos conhecimento e tecnologia para produzir energia do sol, da água, do vento, da biomassa, entretanto mesmo em países como o nosso – que tem a maior área de insolação do planeta – a capacidade instalada para geração de energia solar é incomparavelmente menor do que a de um país que não tem sol, como a Alemanha.

Não são problemas técnicos, mas das escolhas políticas que fazemos. No Brasil, temos a possibilidade de fazer essa quebra de paradigma, pois somos um país gigante pela própria natureza, com cerca de 22% das espécies vivas do planeta, 11% da água doce do mundo, com uma floresta que produz 20 bilhões de toneladas de água por dia, com uma diversidade cultural fantástica. Basta nos agigantarmos pelas decisões que tomarmos. De acordo com o que foi pactuado em Paris, precisamos mudar o modelo de desenvolvimento, sair do modelo insustentável para o sustentável, para que os países sejam economicamente prósperos, socialmente justos, culturalmente diversos, ambientalmente sustentáveis e politicamente democráticos.

Em que pese a crise política, econômica e social que estamos vivendo, com alguns retrocessos na agenda ambiental, o Brasil reúne as melhores condições para fazer a quebra de paradigmas, juntamente com outros países.

Advoguei no Brasil para a realização do plano de que deveríamos ter uma política ambiental transversal, porque política setorial não dá mais conta do desafio. Deve-se ter uma ampla participação dos diferentes setores da sociedade, com controle e participação social. Foi com essas diretrizes que fui ministra do Meio Ambiente por cinco anos.

Se de fato estamos vivendo o antropoceno, a mudança não virá de um grupo, de lideranças isoladas, de partidos, será de um esforço de todos nós. Uma mudança com essa magnitude só será possível se tivermos uma atitude generosa. Essa luta não é pelo critério de antiguidade, pois aqueles que começaram devem ser apenas os recepcionadores daqueles que estão chegando.”