*Siro Darlan
Os bispos católicos do mundo foram convocados pelo Papa Francisco para fazerem uma reflexão do papel das famílias no mundo moderno. O Papa Francisco tem tido a santa ousadia de levar a Igreja a refletir a sua missão evangelizadora numa sociedade que andou mais rápido que os dogmas conservadores.
A Bíblia em sua linguagem é um sinal que a Palavra precisa se adaptar aos homens e sua sociedade. A linguagem figurativa e as parábolas construtivas aproveitam a cultura de cada época para plantar sua mensagem. A primeira proposta de Francisco deve ser levar os bispos a uma reflexão sobre o conceito de família.
Não creio que seja difícil flexibilizar tal conceito se forem levados a olhar para a Família Sagrada de Belém. Lá estava uma mulher virgem, Maria, comprometida com um varão apaixonado, José. Sua noiva prometida aparece grávida por concepção do Espírito Santo. O Bom José, entendendo sua missão sagrada, aceita Maria como sua esposa e adota seu filho Jesus. Que bela missão: o Filho de Deus foi adotado por um humano.
Ora por que será então que há tanto preconceito contra crianças adotadas? Por que não entender a possibilidade de famílias serem reformadas, na busca da felicidade, bem maior que o Homem busca na vida, pelo divórcio e uma segunda oportunidade de ser feliz? Se o bem maior de uma família é o Amor, como entender tanto preconceito com as pessoas do mesmo sexo que se amam?
O exemplo está lá no Presépio de Belém. Cabe aos homens de boa vontade a inspiração que essa imagem de família inspira de compreensão, acolhimento aos diferentes e fé no amor entre os homens e mulheres. Ganhará a Igreja, ganharão os cristãos e ganharemos todos com esse acolhimento que é a verdadeira doutrina de Jesus que, ao contrário dos Doutores da lei e dos fariseus não entenderam quando Ele abriu as portas, antes fechada, à prostituta, aos ignorantes apóstolos, aos estrangeiros de Samaria, às mulheres, sempre tão discriminadas, e a todos os homens de fé.
Lembrando que o Amor e o acolhimento dos irmãos é a verdadeira doutrina de Cristo, o que se espera é que os Bispos saiam de Roma com as portas das Igrejas abertas ao povo cristão que ama a Deus e ao próximo e que todas as formas de amor sejam inclusivas e nunca excludentes.
* desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia
Fonte: Jornal do Brasil