Notícias | 22 de fevereiro de 2013 17:51

Juiz Jairo Vasconcelos fala sobre homossexualidade, cristianismo e Justiça em artigo

O juiz Jairo Vasconcelos Rodrigues Carmo, titular do 4º Registro de Títulos e Documentos na cidade do Rio de Janeiro, presidente do Instituto dos Registradores de Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas do Estado do Rio de Janeiro (IRTDPJRJ) e diretor da Associação dos Notários e Registradores do Rio de Janeiro (Anoreg/RJ), redigiu um artigo com o título “Homossexualidade, o cristão, a Justiça”, publicado com exclusividade no site da Amaerj.

O texto traz como plano de fundo a entrevista realizada pela jornalista Marília Gabriela com pastor Silas Malafaia, transmitida pela emissora SBT, em 3 de fevereiro. O Juiz Jairo Vasconcelos apresenta no artigo considerações sobre os temas que foram abordados na entrevista e a repercussão na sociedade.

Veja o artigo na íntegra:

 

HOMOSSEXUALIDADE, O CRISTÃO, A JUSTIÇA
Jairo Vasconcelos Rodrigues Carmo*

Repercute nas redes sociais a entrevista de Marília Gabriela com certo pastor evangélico. Mais repercute o que diz sobre homossexualidade. Jesus jamais diria: “amo os homossexuais como amo os bandidos”. Suas palavras sempre foram de perdão e reconciliação. Recorde-se da promessa feita ao ladrão da cruz e da frase imortal que livrou da morte a mulher adúltera: “aquele que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (cf. João 8:7).

O cristianismo não é ideologia totalitária fundada em princípios excludentes para formar comunidades de base. O imaginário religioso é que cria barreiras e discriminações, visando a modelar os compostos de identificação. Aí surgem os atos de intolerância contra os diferentes, isto é, aqueles que não se enquadram nos variados perfis idealizados de conduta individual e coletiva.
Soberana é a vida, complexa em suas manifestações. Quantos fatores intervêm, genéticos e não genéticos, o imponderável; são muitas as contingências. No fundo, todos nós padecemos de um sentimento de vazio existencial, como se fôssemos órfãos ontológicos abandonados no mundo. A todos esses, em maior medo ou desespero, apesar dos fracassos e dores, Jesus traz sentido e esperança, ensinando-lhes a prática do amor ágape, que é amizade com comunhão. Não é filosofia; é cumplicidade e confraria; é estar à mesa, vinho e pão.

Jesus Cristo é um corte paradigmático na fé religiosa inspirada em rituais e dogmatismo. Por isso não discute regras, não usa de argumentos para convencer. Quer a fidelidade dos seguidores. Ao contrário das escolas filosóficas da época, notabilizadas pelos embates com os mestres, Jesus mostra as vantagens de amar em todas as circunstâncias. Isso é um marco revolucionário em evolução até hoje.

Pensar no outro, colocar-se no lugar dele, servi-lo, eis o amor encarnado de Jesus. Precisamos superar os abismos que alguns religiosos abrem com suas visões teológicas negativistas e autoritárias. A homossexualidade é um fato humano que condiciona as relações afetivas de milhares de pessoas. Um sábio princípio cristão – não julgar para não ser julgado – é esquecido por muitos pregadores de púlpito. A esses tais Jesus chamava “raça de víboras” (Mateus 23:33). Julgamento sem amor levanta inimigos, nunca partidários e convertidos.

Constrange-me saber que as lutas pelos direitos civis alcançam as maiores vitórias nos tribunais, não nas igrejas. Como fez o Supremo Tribunal Federal anos atrás, para amparar a mulher concubina, e recentemente ao reconhecer as uniões homoafetivas. Carecemos de líderes como Francisco de Assis, Madre Tereza, Luther King, João Paulo II, Desmond Tutu, eles que fizeram brilhar uma luz diferente sobre a realidade que nos cerca.

Na vida de fé, Deus não é patrimônio exclusivo de ninguém. É o contrário: Deus fala aos seus fiéis. Urge ignorar o personalismo de muitos religiosos. É hora de encararmos os grandes dilemas da humanidade. Como enfatizou Desmond Tutu, a oposição à discriminação por orientação sexual é uma questão de justiça. Mais, digo: é um ato de amor. Somos todos – todos nós – parte da família de Deus. Impõe assegurar a todos o direito de amar um ao outro em honra e dignidade. Seria de suma ignomínia culpar uma pessoa pelo que ela é.

O Jesus que creio não persegue minorias vilificadas e oprimidas. Portanto, não posso calar frente à injustiça de condenar quem não pode mudar sua sexualidade. Gays e lésbicas têm o sagrado direito de viver o único amor humano que sentem. Cabe rememorar as palavras de Jesus: “… quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (cf. João 12:32). É um chamado radical: todos. Inclui gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, heterossexuais. Toda experiência com o Deus de Jesus de Nazaré deve implicar em sinais claros de justiça, inclusão e paz.

* Foi Juiz de Direito no Rio de Janeiro – Professor – Tabelião Registrador – É tesoureiro da Associação Nacional dos Magistrados Evangélicos (ANAMEL).

 

Fonte: Assessoria de Imprensa da Amaerj