A banda Urca Bossa Jazz lançou, na quinta-feira (6), no Museu da Justiça, o vídeo de animação “Acaiaca”, produzido pelo desembargador Wagner Cinelli. A música relata a lenda de ‘Acaiaca’, árvore sagrada dos índios da tribo Puris, que foi exterminada no século XVIII.
O magistrado explicou que a ideia do clipe foi resgatar a história indígena e o processo de dominação ocorrido no Brasil. “Eu me senti ainda mais provocado pela lenda da “Acaiaca” por tratar de uma questão indígena, pelo fato de constatarmos uma invisibilidade do índio na sociedade brasileira. Nos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo é rara a oportunidade de convívio com os índios. É como se eles não tivessem vivido aqui. Por isso senti a necessidade de bater nessa invisibilidade”, disse Cinelli.
Depois do lançamento do vídeo, a antropóloga e professora da PUC-RJ Simone Dubeaux Berardo fez palestra sobre a dizimação das tribos indígenas no Brasil. Ela elogiou o clipe, considerando que ele contribui para a divulgação da história da dominação dos índios e destacou a simbologia da árvore e sua importância para a tribo Puris.
“Não podemos esquecer, também, da simbologia da árvore, que através das cascas do tronco e galhos serviam para tratar das enfermidades da tribo. Os índios se reuniam em volta da árvore para discutir as questões mais importantes da tribo. A lenda se apresenta tão real e tão contemporânea, pois retrata a corrupção. O clipe é importante porque nos permite debater sobre a violência que praticamos”, destacou a professora.
‘Acaiaca’ é o quinto vídeo de animação lançado pela Urca Bossa Jazz. Antes, o grupo já havia lançado os clipes “Saudades do Raul”, “Lava Lava”, “Mandacaru” e “Pena da Galinha”. Cinelli anunciou que o próximo vídeo musical a ser lançado pela banda será o Quequerê, abordando a questão da consciência negra.
O clipe “Acaiaca” foi coordenado pelo Gabinete das Artes, com ilustração de Axel Sande, Juliana Barbosa e Lucas Chewie.
A lenda da Acaiaca
Conta a lenda que no Arraial do Tijuco, hoje município de Diamantina (MG), erguia-se um frondoso cedro, Acaiaca, árvore sagrada dos índios Puris. Eles acreditavam que se ela desaparecesse, a tribo também desaparecia. No dia do casamento do guerreiro Lepipo com a filha do cacique, a bela Cajubi, os portugueses que habitavam o arraial e que viviam em conflito com a tribo aproveitaram a chance para derrubar a árvore.
Em pouco tempo, os índios viram a desgraça com seus próprios olhos. Jazia por terra a árvore sagrada. Não podendo conter-se, um guerreiro mais afoito fez soar um grito de guerra contra os brancos. Na discussão que se verificou, a tribo se dividiu e os guerreiros destruíram-se mutuamente em medonha matança.
Dizem que foi a partir dessa noite que os garimpeiros começaram a encontrar as pedrinhas brancas, os diamantes, que surgiram dos carvões e das cinzas daquela árvore sagrada. Cajubi ficou encantada em formato de uma onça, aparecendo andando ereta com a cabeça do animal. Tentava impedir os garimpeiros de coletar os diamantes. O sofrimento veio com as duras leis que a Coroa Portuguesa impôs ao povo do Arraial do Tijuco.
(Com informações do TJ-RJ)