* Folha de S.Paulo
Quando o assunto é feminismo e a luta pelos direitos da mulher, é impossível não falar de Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976), bióloga e jurista brasileira. Bertha nasceu em São Paulo, em 2 de agosto de 1894, era filha do cientista e pioneiro da medicina tropical Adolfo Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler.
Em 1918, graduou-se em biologia pela Faculdade de Ciências de Paris (Sorbonne) e, em 1933, bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, quando publicou “A nacionalidade da mulher casada”, na qual defendia os direitos jurídicos da mulher.
De sua temporada na Europa, para completar sua educação, tomou contato com a campanha sufragista inglesa. Retornou ao Brasil com essa notícia e começou a lutar pelo direito ao voto da mulher, dentre outras reivindicações em que teve participação fundamental.
Como a Folha publicou após sua morte, Bertha Lutz foi pioneira no movimento feminista. Ela fundou, em 1919, o Movimento Feminista Brasileiro, liderando assim o voto da mulher e criando a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher.
Três anos depois fundou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino e começou a lutar pelo direito de voto para as mulheres. Sua luta estava somente começando. Em 1923, representou o Brasil na Conferência Internacional da Mulher, em Roma, e em 1925 esteve na Conferência Pan-Americana da mulher, em Washington.
Em 1935, como suplente na Câmara dos Deputados, viu-se perseguida por fraude eleitoral, mas acabou absolvida. No ano seguinte, tomava posse e juntava-se a Carlota de Queiroz, como as únicas deputadas da Câmara. Bertha lutou pela mudança na legislação referente às mães e ao trabalho dos menores.
Antes de eleger-se, apresentou à comissão que elaboraria a Constituição de 1934 algumas mudanças. Suas sugestões foram aprovadas e incluíam o direito ao voto para mulheres e a garantia de emprego às gestantes.
Em 1975, um ano antes de seu falecimento -em razão de pneumonia aguda, aos 82 anos-, a doutora Bertha Lutz representou o Brasil na Conferência Mundial sobre o Ano Internacional da Mulher e foi delegada titular do Brasil na Comissão Interamericana de Mulheres.
Como defensora dos direitos da mulher, Bertha deixou um legado que persiste até hoje. Sobre o papel feminino, afirmara: “Para a mulher vencer na vida, ela tem que se atirar. Se erra uma vez, tem que tentar outras cem. É justamente a nova geração a responsável para levar avante a luta da mulher pela igualdade”.
Prêmio
Pela resolução nº 2/2001, com base em projeto de resolução apresentado pela senadora Emília Fernandes, foi criado o Prêmio Bertha Lutz, para agraciar mulheres que se destacam na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no Brasil.
Entregue desde 2002, no Dia Internacional da Mulher, o prêmio agraciou apenas um homem em suas 15 edições, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello. Ele foi homenageado por uma campanha pela maior participação feminina na política que promoveu em 2014, quando era presidente do Tribunal Superior Eleitoral.