Cultura | 05 de abril de 2021 10:02

Revista Fórum: O Museu tá on

Tribunal Pleno do antigo Palácio da Justiça | Foto: Matheus Salomão

Equipes do CCMJ se mobilizaram para transpor programas, acervo e exposições ao mundo virtual

Por Evelyn Soares

No início de março de 2020, o CCMJ (Centro Cultural Museu da Justiça), no Centro do Rio, inaugurou a exposição “Nossa Luta: a perseguição aos negros durante o Holocausto”. No dia 16, os totens no Salão dos Passos Perdidos deixaram de ser visitados, assim como todo o prédio de 1926. O esvaziamento sem precedente na história do espaço cultural decorreu da pandemia.

A reinvenção começou logo depois: a agenda de exposições, peças e concertos foi, de forma experimental, substituída por programação virtual. Sergio Sydow, diretor do CCMJ desde 2019, explicou que, em abril, o primeiro programa a se tornar online foi “Do Direito à Literatura – Encontros Literários Interdisciplinares”. O clube de leitura serviu como laboratório para que outros trabalhos se desenvolvessem no ambiente remoto.

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A seguir, o CCMJ organizou a Visita Virtual ao Palácio no Rio, em comemoração ao Dia da Memória do Poder Judiciário, celebrado em 10 de maio. Três visitas ao Antigo Palácio da Justiça do Rio levaram ao público, em casa, as histórias e os detalhes museológicos, arquitetônicos e culturais.

“Foi um sucesso, pois nos primeiros meses de pandemia as pessoas estavam praticamente confinadas em casa e gostaram muito dos vídeos. A partir destas experiências, virtualizamos todos os programas presenciais, inclusive exposições. A inovação, a reinvenção e a reconexão com o público foram muito rápidas. A equipe do CCMJ compreendeu o desafio e se dedicou ao máximo, aprendendo novas tecnologias e criando programas”, explicou Sydow.

A grade cultural online, “CCMJ com Você”, está disponível no site da instituição. Três programas têm transmissão ao vivo: o Clube de Leitura, o Sarau das Musas (dedicado à poesia) e o “Conversas: reflexões e ações no enfrentamento à violência”, que busca motivar as pessoas para a prevenção da violência contra a mulher.

Salão Nobre do Centro Cultural Museu da Justiça | Foto: Matheus Salomão

“Fazendo Arte por Toda Parte”, curso de pintura orientado pela artista plástica Isabela Francisco, é exibido semanalmente no YouTube. O projeto foi criado em parceria com a juíza Juliane Beyruth de Freitas Guimarães (Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de São Gonçalo) para crianças abrigadas e em cumprimento de medidas socioeducativas.

Alimentar a nova realidade virtual fez o CCMJ resgatar materiais só acessados por sua equipe e pesquisadores. Um exemplo é o “História Oral”, projeto que há 16 anos filma depoimentos de magistrados e convidados com o fim de preservar a história recente do Judiciário. A série online foi aberta com o desembargador Sylvio Capanema, morto em junho. Na série “Música no Museu”, concertos de pianistas e grupos musicais são postados no YouTube.

No “Objetos que contam histórias”, a Reserva Técnica selecionou quatro componentes do acervo com o objetivo de detalhar sua importância para a Justiça: o contador, o capelo, a máquina de escrever e a pintura.

O acesso ao acervo do Museu também teve que ser ajustado aos novos tempos. Antes, o atendimento era presencial ou remoto. Sem as visitas, a equipe anotou pedidos, digitalizou e disponibilizou cópias digitais de documentos históricos no portal do CCMJ.

A ampliação do acesso ao Centro Cultural foi evidente. Cerca de 24 mil pessoas visitavam o Museu por ano, a maioria delas presencialmente. Em 2020, houve 1.1917 visitas nos primeiros meses do ano e 76.713 virtuais. O diretor fala da relevância da cultura na pandemia.

“As equipes de saúde têm papel fundamental na linha de frente de combate à pandemia. Mas devemos nos lembrar dos artistas, historiadores… Seus trabalhos ajudaram muitos a manter a saúde mental enquanto confinados. Como museu, tivemos o desafio de inovar e nos reinventarmos e aproveitar o acesso que a tecnologia dá para levar nossa história e memória às pessoas.”

Clique aqui para ver a programação completa do CCMJ.

O escultor da Justiça

Nascido em 1906, Deocleciano Martins de Oliveira Filho ingressou na Magistratura do então Distrito Federal em 1946 e foi promovido a desembargador em 1965. Sete anos depois, aposentou-se. O desembargador dividiu seus talentos entre o Direito e as artes plásticas. Com frequência somava essas paixões em suas obras.

Cinco esculturas de autoria do magistrado estão distribuídas pelo TJ. “Lei”, “Justiça” e “Equidade” ornamentam o entorno do Tribunal, na Avenida Erasmo Braga. Nos corredores do TJ e do CCMJ, é possível admirar seus retábulos, série de 44 relevos em madeira inspirados nas parábolas do Novo Testamento, da Bíblia.

É possível conferir a obra completa do desembargador na mostra virtual “O Escultor da Justiça – Um olhar artístico sobre Deocleciano” no site do CCMJ.

Confira aqui a revista completa.

Quadro retrata o artista plástico e desembargador Deocleciano Filho | Foto: Matheus Salomão