Notícias | 06 de setembro de 2011 15:23

Programa dá benefícios a empresas que empregarem ex-presidiários

Mais de mil ex-presidiários estão trabalhando nas obras de cinco estádios para a Copa do Mundo de 2014. É o resultado de um acordo entre o Conselho Nacional de Justiça e o Comitê Organizador do Mundial. Nesta segunda-feira (5), em São Paulo, foi lançado um selo para empresas que participarem de projetos como esse.

” O sol era muito forte para os meus olhos. Caminhei com os olhos fechados durante um bom trajeto”, conta a instrutora de cabeleireira Shirley Costa.

Assim foram os primeiros passos dela depois de oito anos de cadeia. “Bater em uma porta e falar que você é ex-presidiário, que você está precisando de emprego, você recebe um olhar de ‘tadinho’, mas a oportunidade mesmo não vem”, acrescenta.

A oportunidade até vem, mas depende de ajuda. É por isso que tem espera para o atendimento nas centrais de reintegração. Lá, os ex-detentos conseguem reaver documentos perdidos, e o mais importante: são treinados e apresentados às empresas.

“Às vezes é necessário até irmos conversar com os colegas de trabalho dessa pessoa, os futuros colegas de trabalho dessa pessoa. Explicando quem é, a gente consegue a inserção no mercado”, diz Mauro Rogério Bitencourt, coordenador de reintegração social e cidadania.

Para aqueles que pedem ajuda às autoridades, as chances de reintegração aumentam muito. Só neste ano, no estado de São Paulo, quase dois mil ex-presidiários foram encaminhados para o mercado de trabalho com grandes chances de contratação. Isso vale até para os que muita gente considera irrecuperáveis.

“Eu matei uma pessoa. A gente trabalhava junto, houve uma discussão”, lembra um ex-detento. A história é triste, longa e tem que ficar no passado. Doze anos depois, ele completou o Ensino Médio. “A minha pretensão é uma faculdade”, sonha o ex-detento.

Por causa de um acordo entre o Conselho Nacional de Justiça e o Comitê Organizador da Copa, mais de mil ex-detentos já estão trabalhando nas obras de cinco estádios. Além de receber um certificado de responsabilidade social, a empresa que adere ao programa “Começar de novo” ganha prioridade em licitações federais e, em alguns estados, gasta menos com impostos.

Nesta segunda-feira (5), no lançamento do selo que vai certificar essas empresas, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cézar Peluso, que também comanda o Conselho Nacional de Justiça, defendeu a reintegração como forma de reduzir a violência.

“A taxa de reincidência no nosso país chega a 70%. Isso quer dizer que sete de cada dez libertados voltam ao crime. O estado e a sociedade civil devem criar e fomentar políticas públicas sólidas que criem condições para o recomeço”, afirmou. Com ajuda para recomeçar, eles dificilmente esquecem o valor que tem a liberdade que só trabalhando Shirley conquistou.

Fonte: Jornal Nacional