* Gilberto Pinheiro
A angústia e a insólita tristeza consomem meu coração aprendiz, quando vejo a destruição de biomas, ecossistemas pelo algoz humano. O homem ainda não entendeu que é parte integrante da natureza e não o senhor soberano, fazendo o que bem entende para sua comodidade e ganância desenfreada. Infelizmente, a saga e a sede pelo lucro financeiro, o vale-tudo pela vida, entorpecem o entendimento, maculando a razão, e tudo torna-se objeto de conquista em nome de um suposto “progresso”. A reboque vêm as consequências desastrosas, entendidas como inevitáveis, numa insana relação custo/benefício. Tudo é “válido” e tolerável pelo bem da vida humana. A torpeza e a irresponsabilidade têm pernas longas e unhas afiadas. Desde quando a fauna e a flora podem ser agredidas contumazmente como ocorre desde os idos dos tempos, sob o lívido olhar dos governantes?
O desastre ecológico em Mariana, interior de Minas Gerais, é o pior que ocorreu em nosso país. A natureza está chorando e as autoridades governamentais permanecem tácitas, incompreensivelmente caladas, demonstrando o insólito silêncio da culpa presumida. E a sociedade brasileira não questiona, não indaga às autoridades, como se a natureza fosse vida sem valor, um prodígio apenas para idealistas e ecologistas “chatos” que não têm o que fazer. E assim vamos vivendo, nos enganando, para não sofrer muito, afinal, o prazer, o hedonismo ecoam e tudo fica como antes no Quartel de Abrantes.
O ser humano se recupera de duros golpes mas a natureza não reage com a mesma determinação e, muitas vezes, sistematicamente agredida, adoece gravemente, sob o perigo imimente de morte. A tragédia ocorrida deixará marcas indeléveis, pois o leito do rio Doce foi totalmente danificado, além de peixes contaminados, comprometendo a cadeia alimentar, além de risco iminente de contaminar os mares, destruindo algas, plânctons. animais maritmos. Natureza agredida, natureza sofrida, natureza que poderá se tornar estéril.
FAUNA E FLORA AGREDIDAS CONTINUAMENTE
A fauna e a flora brasileiras são das mais ricas em todo o planeta por sua diversidade e, no entanto, a frouxidão das leis protetivas e a ousadia insana dos algozes da natureza desafiam a harmonia da vida na Terra, colocando em risco a sobrevivência humana e de outras espécies. Muitos animais, por exemplo, já estão em fase de extinção por causa da caça predatória e tráfico de animais que insistem em desafiar as leis brasileiras.
O tráfico de animais é uma das ilicitudes mais rentáveis do planeta – em primeiro lugar o tráfico de armas; em segundo o tráfico de drogas e em terceiro o tráfico de animais. É uma covardia sem limites, pois os animais são trazidos em condições inadequadas e, em cada dez, morrem oito deles, em virtude da péssimas condições em que são trazidos, retirados de seus habitats. A crueldade humana não tem limites. As leis deveriam ser mais contundentes em relação aos crimes ambientais, tráfico de animais, assim como a caça e pesca predatórias. Mas, não é assim!
OS CRIMES CONTRA A NATUREZA E SUA BIODIVERSIDADE PRECISAM SER FREADOS COM LEIS MAIS RIGOROSAS
Causa a impressão que os legisladores em nosso país parecem pouco conhecer sobre a importância da preservação da biodiversidade, por isso, leis brandas e praticamente inócuas. Enquanto houver esse entendimento menor, dificilmente avançaremos para conter a destruição ambiental e a perseguição aos animais. Um dia, quando a nossa sociedade adquirir melhor consciência sobre as questões abordadas, tudo será diferente, cobrando das autoridades governamentais atitudes. A esperança então tornar-se-á alvissareira, afinal, quando há entendimento, respeito e consciência desenvolvidos, a harmonia se manifesta.
Precisamos ser persistentes na defesa da vida, determinação ousada, coração intimorato, alma destemida, pois a verdade e a vida são afiançáveis e por elas tudo vale a pena, modificando paradigmas pelo bem da vida na Terra. A vida é luta renhida, sofrida, impondo-nos desafios que não devemos fugir jamais. Somente os mais fortes enfrentam as maiores batalhas e a vida nos incumbiu dessa responsabilidade. Que Deus guie nossos passos e intua-nos para seguirmos em frente, afinal, o bem precisa ser realidade e não fugiremos à construção desse nobre ideal em nosso país. A natureza merece nosso apoio irrestrito e, por ela, nada será em vão.
Gilberto Pinheiro é jornalista, palestrante em escolas, universidades, simpósios sobre a senciência dos animais