No seminário “Mulheres no poder – A educação como ponto de partida”, em Manaus (AM), a Camerata de Ukulelê de Manacapuru emocionou a plateia. Integrado por estudantes, o grupo nasceu de um projeto da doutora em Ciências Biológicas Claudete Catanhede do Nascimento, que palestrou sobre “Mulheres na Ciência” após a presidente da AMAERJ, Renata Gil, abordar “A Participação Política Feminina”.
O evento, ocorrido nesta segunda-feira (18), foi promovido pelo TRE-AM (Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas) e pela Escola Judiciária Eleitoral.
Veja aqui o vídeo. Músico da Camerata, Jailson da Mata contou que o grupo nasceu do projeto “Construindo Instrumento Musical com Madeiras da Amazônia”. Implantado em 2012 no município de Manacapuru, na região metropolitana da capital amazonense, o projeto da cientista biológica selecionou 17 estudantes com base em boas notas e bom comportamento.
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Durante um ano, eles foram treinados para se tornarem luthiers, profissionais que constroem e restauram instrumentos.
“Fomos capacitados para construir instrumentos musicais a partir de madeiras reaproveitadas – resíduo de demolição, de serraria e árvores caídas –, com o intuito de conscientização e preservação da nossa Floresta Amazônica”, explicou Jailson, que contou quem foi o primeiro aluno a terminar um ukulelê: “Entre os 17 alunos, homens e mulheres, a primeira pessoa a concluir um instrumento foi uma moça, Maria Eduarda”.
O ukelelê é um instrumento acústico assemelhado ao cavaquinho brasileiro. É conhecido como o violão do Havaí, ilha no Oceano Pacífico onde foi criado. O ukelelê, geralmente, tem quatro cordas.
Presença feminina nos espaços
O encontro foi aberto por Abraham Peixoto Campos Filho, diretor da Escola Judiciária Eleitoral. Para ele, “nada tem o poder de promover a equidade que a educação tem. Sem educação, o indivíduo permanece um coadjuvante da própria existência e vive à margem do curso da história”.
Na palestra de abertura, a vice-presidente Institucional da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Renata Gil, apresentou duas vertentes da pauta feminina atual. A primeira delas foi sobre os altos números de violência doméstica e de feminicídios no país, assim como a precariedade no atendimento às vítimas.
“Apesar das políticas públicas apresentadas, a rede de atendimento às vítimas de violência ainda é incipiente no Rio. As delegacias especializadas estão se deteriorando, com falta de equipes interdisciplinares e poucos profissionais capacitados”, disse ela.
A presidente também fez uma análise geral sobre a cultura da violência de gênero: “A cultura patriarcal é um fenômeno estrutural, porque vemos, em diversas localidades, que a violência tem o mesmo ponto de partida: homens que veem mulheres como objeto, propriedade. Precisamos de uma mudança de cultura, assim como a reestruturação da rede de apoio e a punição efetiva desses agressores”.
Na segunda parte da exposição, Renata Gil falou sobre a atuação feminina no Judiciário e suas dificuldades. As mulheres são 37% dos magistrados, segundo pesquisa do CNJ. A ascensão na magistratura é difícil: correspondem a 44% dos juízes substitutos, 39% dos titulares, 23% dos desembargadores e 16% de ministros de tribunais superiores.
A presidente apresentou esses percentuais e outros números, relativos à presença feminina no Legislativo – em que houve aumento, mas três estados não elegeram uma mulher para a Câmara dos Deputados – e no Executivo – em que mulheres ocupam pouco mais de 10% de cargos em prefeituras do país.
“As mulheres representam 52% dos brasileiros, mas isso não se reflete em sua participação nas três esferas de Poder. Trabalhar somente com as políticas públicas não basta. Para reverter esse quadro, precisamos da educação”, pontuou a magistrada.
Renata Gil dividiu a mesa com a doutora Claudete Catanhede, do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). A especialista, que criou o projeto “Construindo Instrumento Musical com Madeiras da Amazônia”, abordou a dificuldade das mulheres em acessar as Ciências Exatas – situação diferente das de Humanas. Para Claudete, os progressos foram alcançados com muita luta e a participação da mulher nestas áreas de conhecimento precisa crescer.
*Com informações do TRE-AM