AMAERJ | 08 de setembro de 2020 17:29

CNJ flexibiliza condições de trabalho de magistrados com deficiência e filhos especiais

Sessão desta terça-feira (8) do CNJ | Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ

Em vitória histórica da magistratura, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) aprovou nesta terça-feira (8), por unanimidade, resolução que cria condições especiais de trabalho para magistrados e servidores com deficiência, necessidades especiais ou doença grave ou que tenham filhos ou dependentes legais na mesma condição. A proposta foi apresentada pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e defendida pela AMAERJ.

A AMAERJ parabeniza o Conselho Nacional de Justiça e a AMB pelo ato que dignifica e reconhece os direitos constitucionais da pessoa com deficiência. A juíza Adriana Laia Franco (diretora do Departamento de Acessibilidade e Inclusão da AMAERJ) integrou o Grupo de Trabalho do CNJ sobre o tema, onde atuou com afinco para levar a matéria à discussão.

Leia também: AMAERJ integrará o Comitê de Proteção de Dados Pessoais do TJ
Magistrados brasileiros terão nova carteira funcional
AMAERJ parabeniza magistrados pelos 17 anos do 37º Concurso

Em sua última sessão como presidente do CNJ, Dias Toffoli falou sobre a proposta associativa. “Me lembro de quando o então presidente da AMB, Jayme Martins, me procurou com um grupo de magistradas e magistrados para pedir um olhar para os magistrados que tinham filhos nessa situação de necessidade. Nos comprometemos a criar esse grupo de trabalho. Essa resolução não é um privilégio, faz cumprir determinação constitucional”, afirmou.

A resolução aprovada tem como sujeito de direito a pessoa com deficiência e atende ao disposto na Lei 13.146/15, conhecida como “Lei Brasileira de Inclusão”, de status constitucional. Entre as condições diferenciadas da resolução está a autorização para cumprir a jornada em regime de teletrabalho.

“Agradeço, pessoalmente, a todos os colegas. Sou pai de um filho portador de necessidades especiais, vivencio na pele as dificuldades que é ter um filho nessas condições. O Conselho Nacional de Justiça está fazendo justiça pois se trata de uma prerrogativa no melhor interesse da família e do próprio magistrado”, relatou o conselheiro Rubens Canuto Neto.

O conselheiro Marcos Vinícius Rodrigues aplaudiu a iniciativa, “concretizando o artigo 1º do Decreto 6.949/2009, que deu status de norma constitucional à Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência”.

Para o conselheiro Mário Guerreiro, a norma é fundamental às crianças com deficiência. “Além disso, nenhum juiz que tem uma questão dessas em casa, na sua família, vai trabalhar com tranquilidade. É um grande passo, um dia histórico. Parabenizo a todos pela aprovação dessa resolução.”

Durante a sessão, houve alterações no texto da minuta da norma. A versão final da resolução será divulgada pelo CNJ.

Atuação associativa

A AMB e a AMAERJ criaram, em outubro de 2018, pastas especiais para dar atenção prioritária aos magistrados e familiares com deficiência. Com a participação de Adriana Laia, a Diretoria de Política Institucional e de Apoio para Magistrados com Filhos Especiais, da entidade nacional, e Departamento de Acessibilidade e Inclusão, da associação fluminense, foram fundamentais para ações propositivas e concretas sobre o tema.

Foi proposta pela AMB a criação de um grupo de trabalho do CNJ para analisar a flexibilização das condições de trabalho para os magistrados nessas condições. O GT foi instituído em setembro de 2019, sob a coordenação do conselheiro Valtércio de Oliveira. Desde então, houve diversas reuniões com o objetivo de estudar e elaborar o projeto de resolução.

“Participei de uma dessas reuniões e pude ouvir a dificuldade desses magistrados que têm a necessidade de atender a sua comarca no interior. Além da justiça para esses magistrados, esse ato normativo é um estímulo para a sociedade”, afirmou o conselheiro André Godinho.

Grupo de trabalho do CNJ: Flávio Melo, Ed Lyra, Elbia Araújo, Adriana Laia, Valtércio de Oliveira e Marcos Barbieri | Divulgação

Os debates foram subsidiados pela pesquisa da AMB “Quem somos. A magistratura que queremos”, na qual 190 magistrados – 21 do Rio de Janeiro – afirmaram ter filhos com algum tipo de deficiência, do Transtorno do Espectro Autista (TEA) à paralisia cerebral.

“Registro o agradecimento da AMB. Acabei de receber mensagens das minhas colegas e dos meus colegas que são pais de filhos especiais e eles me disseram que estão emocionados. Deixo o agradecimento dos magistrados brasileiros a este Conselho”, disse a presidente da AMB, Renata Gil, durante a sessão.

Em âmbito estadual, a AMAERJ apresentou requerimento ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em março deste ano, sobre a criação de condições especiais de trabalho aos magistrados nessas condições. A associação pediu que o TJ-RJ publique ato normativo que institua iguais direitos a esses magistrados.