Notícias | 17 de fevereiro de 2012 13:30

Caso Eloá é tema de artigo da juíza Rosana Navega publicado na Folha

O palco é para artistas. É com esta frase que a juíza Rosana Navega, titular do Juizado Especial Criminal de Nova Iguaçu, finaliza seu artigo, publicado ontem (16) na Folha de São Paulo, onde defende que sequestros como o de Eloá Pimentel, jovem assassinada pelo ex-namorado em São Paulo, não devem ser transmitidos em tempo real. Segundo a magistrada, “policiais não precisam dar show em operações”. Ela acredita que o apelo midiático acaba atrapalhando as negociações e estressando ainda mais o criminoso, aumentado assim o risco da vítima.

Confira a íntegra do artigo:

*No Rio e em SP, os mesmos erros da polícia e da imprensa

Julguei, em 2007, o caso do “Ônibus 499”, semelhante ao de Eloá, mas com final feliz. No ano anterior, André Luiz Ribeiro da Silva, armado, sequestrou um ônibus com 40 pessoas após discutir com a companheira, em Nova Iguaçu (RJ). A polícia foi chamada.

A discussão, num ponto de ônibus, lembrava um assalto. Ou seja, quem a denunciou se equivocou e, consequentemente, também os policiais.

Ao ver o fuzil do policial, Silva ingressou no ônibus, usando a companheira como escudo. Houve perseguição ao ônibus, imobilizado com tiros nos pneus na via Dutra. Como no sequestro de Eloá, o caso foi mostrado em tempo real pelas TVs.

Doze horas após o início do “sequestro”, um promotor de Justiça percebeu, ao falar com Silva, que não havia necessidade de tudo aquilo.

Ele se propôs a levá-lo à delegacia, mas os policiais disseram que ele não estaria apto a lidar com o bandido. Silva também propusera se entregar a um pastor, hipótese negada sob o mesmo argumento.

Após muita negociação, o “sequestro” teve fim quando Silva entregou a arma ao promotor, pela janela. Foi quando o Bope invadiu o 499. Só a invasão foi filmada, ficando o mérito para o Bope, não para o promotor!

No caso de São Paulo, por que não chamaram um pastor, padre ou líder comunitário? A polícia não percebe que numa situação extrema o “sequestrador” não negociará com um policial -mesmo formado nas melhores escolas dos EUA- por temer por sua vida, mas poderá negociar com um religioso?

Não defendo Lindemberg Alves, acusado da morte de Eloá. Mas digo que houve falhas na conduta policial.

Deixaram passar muito tempo, estressaram-no e deveriam ter a humildade de aceitar a ajuda de um religioso ou alguém próximo a Lindemberg nas negociações.

Criminosos ou passionais não negociam com policiais. E policiais não precisam dar show em operações filmadas pela mídia. Não sei se foi Lindemberg quem matou Eloá, mas, se foi, acredito na parcela de culpa da polícia. E fica aqui um apelo ao legislativo: que seja impedida, por lei federal, a filmagem dos “crimes em tempo real”. Afinal, palco é para artistas.

* Rosana Navega Chaves, juíza do Juizado Especial Criminal de Nova Iguaçu, RJ. Artigo veiculado no jornal Folha de SP

Fonte: Assessoria de Imprensa da Amaerj, com informações da Folha de S. Paulo