O ministro Joaquim Barbosa presidirá nesta terça-feira sua última sessão no Supremo Tribunal Federal (STF) antes da aposentadoria, prevista para este mês. Relator do processo do mensalão, Barbosa deixou sua marca ao conduzir à condenação personagens importantes do governo Lula, como o ex-ministro José Dirceu — contrariou a tradição de impunidade no julgamento de políticos suspeitos de corrupção.
Barbosa vai renunciar aos cargos de presidente e ministro do STF quatro meses antes do fim de seu mandato de chefe do Judiciário. Ele afasta-se em meio a um clima de isolamento no tribunal, cuja derrota na última quarta-feira foi o ponto final. Naquele dia, o plenário derrubou decisões de Barbosa e liberou condenados no processo do mensalão para o trabalho fora do presídio.
Barbosa deixa o STF nas próximas semanas, mas não releva o que fará depois de aposentado, aos 59 anos. Cortejado para disputar as eleições deste ano, ele recusou convites de partidos para se filiar. Mas não descarta, no futuro, disputar um cargo político.
Relembre a carreira de Barbosa
Barbosa teve em seu gabinete as investigações do mensalão durante nove dos 11 anos em que permaneceu no STF. Foi sorteado relator do processo em 2005 e suspeitava que o julgamento teria o mesmo destino de casos anteriores do tribunal: absolvição e impunidade.
O julgamento terminou com a condenação à prisão de praticamente todos os envolvidos, a começar pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado como mentor intelectual do mensalão.
Barbosa foi indicado para o STF pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, que havia decidido nomear um negro para o cargo. O então procurador da República votou em Lula em 2002. Em 2006, apesar da descoberta do esquema do mensalão, manteve apoio ao presidente. Na cerimônia no Palácio do Planalto, após ser indicado, afirmou que sua escolha sinalizava para a sociedade “o fim de certas barreiras visíveis e invisíveis”.
Desde a chegada à Corte, envolveu-se em discussões com seus pares. A primeira delas com o ministro Marco Aurélio Mello, que durante um julgamento reagiu ao tom considerado por ele agressivo de Barbosa:
— Para discutir mediante agressões, o lugar não é o plenário do STF, mas a rua.
Durante o julgamento do mensalão, alvejou por diversas vezes o ministro Ricardo Lewandowski, afirmando, dentre outras coisas, que o colega atuava como advogado de defesa dos réus.
No mês passado, Barbosa pediu ao Ministério Público que tomasse providências contra o advogado Luiz Fernando Pacheco, defensor do ex-deputado José Genoino, também condenado no mensalão. Dias antes eles discutiram, e Barbosa ordenou que seguranças expulsassem o advogado do plenário do STF.
O episódio levou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a emitir nota de repúdio a Barbosa. A entidade não foi a única a ter problemas com o presidente do Supremo. As relações dele com associações representativas de juízes também não foram boas.
Fonte: O Estado de S. Paulo