Com a devida vênia, o charme pediu espaço no austero ambiente do Judiciário e botou todo mundo para dançar no baile promovido pelo Tribunal de Justiça no Centro do Rio, na tarde deste sábado (29). O baile “A Justiça é o charme” acontece no meio da rua, de graça, sob o comando do DJ Corello.
Para o DJ, a iniciativa de abrir os espaços do Poder Judiciário ao público para contar a história da black music é algo inédito.
“A população de forma geral vê a Justiça sisuda, a imagem da Justiça é uma coisa muito séria. A iniciativa pegou todos de surpresa, mas gerou oportunidade de se contar a história da black music, que é uma história de paz, de não violência e essas coisas estão ligadas”, disse.
Um palco, com dois painéis de led, foi montado na Rua Erasmo Braga, em frente ao prédio da Escola da Magistratura do Rio (Emerj). Dois grupos, com cinco dançarinos cada, foram escalados para dar um show. No palco, um dos grupos, formado pelos dançarinos Paulo César, Negro, Wellington Charmeiro, Suzi Franquini e Viviane Custódio, faz uma encenação da história da black music, mostrando as influências musicais que deram origem ao charme na década de 1980.
Já no chão, outro grupo de artistas, composto por Talita, Juliana, Jaqueline, Maurício e Marcela, ministra um workshop de dança.
Os dançarinos bem vestidos, os passos coreografada e a animação que fizeram a fama do baile charme de Madureira se fizeram presentes no Centro .
Frequentador do baile de Madureira, o segurança Sergio Luther afirma que esta é uma possibilidade de divulgar o baile e fazer com que ele chegue a mais pessoas. Ele se produziu
com roupa social para o evento. Sobre a diferença entre os dois eventos, ele aponta o piso.
“O chão aqui é bem irregular, lá é mais liso, facilita dançar”.
O evento também fez sucesso com quem não é do Rio. Dulcinéia Goncalves veio acompanhada da mãe, Dulce. No Rio há dois anos, e a primeira vez que elas vão a um baile charme. Ela conta que este evento acontece em São Paulo, mas com um nome diferente.
“O nome lá e baile da nostalgia. Aqui é charme. Lá toca muito samba rock, aqui não tem e eu sinto falta”, conta Dulcinéia, que entrava nos bailes antes da maioridade na companhia da mãe.
Ainda assim, as duas curtiram o evento e planejam visitar Madureira para uma nova incursão a este universo.
O baile charme tem ainda feira de acessórios típicos da cultura da black music e comida de rua com os food trucks.
“O charmeiro vai ao baile para dançar, para encontrar paz espiritual. Quando o tribunal realiza um evento para dar destaque ao ritmo isso é muito importante”, ressalta o DJ, que é um dos principais nomes na cultura da black music.
A iniciativa faz parte do projeto “Cultura é Justiça”, da Diretoria-Geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento do TJ-RJ, comandada pelo professor e historiador Joel Rufino dos Santos. A Prefeitura do Rio apoiou com delimitação do espaço e banheiros químicos.
Encontro no elevador
Há cerca de três meses, em uma conversa casual no elevador, o segurança do Museu da Justiça Amilton Oliveira dos Santos comentou com um aluno de História que estava muito impressionado com um livro que estava lendo, “As veias abertas da América Latina”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, morto em abril. O diretor-geral de Comunicação e Difusão do Conhecimento do TJ-RJ, professor Joel Rufino, também estava no elevador e disse ao segurança que conhecera o escritor.
“A partir daí, começamos uma amizade. O professor me deu um livro de sua autoria, ‘A escravidão no Brasil’. No final, observei a citação de várias manifestações culturais do Brasil, entre elas, o Baile Charme de Madureira”, contou Amilton.
O segurança conhece muito bem o baile porque, com amigos, moradores de Vilar dos Teles, em São João de Meriti, na Baixada fluminense, criou o “Amigos do Charme”, em 2007, um grupo organizado para promover bailes e divulgar o charme.
Quando Amilton comentou com Rufino que tinha um grupo e que organizava bailes charme, o professor logo teve a ideia de recriar a festa na rua do tribunal.
Fonte: G1 | Foto: Brunno Dantas/TJ-RJ