Notícias | 06 de agosto de 2015 06:29

A senciência dos peixes

*  Gilberto Pinheiro

A pesca esportiva é uma atividade em expansão no Brasil e talvez no mundo.  Lamentavelmente, uma realidade que navega em mares que levam ao inaceitável, em virtude do sofrimento dos animais. A rudeza humana tem várias faces e somente a educação conterá o ímpeto destruidor.

Precisamos entender que é indispensável ao ser humano a sua evolução integral, respeitando a vida não apenas humana, mas a fauna e a flora, afinal, somos inquilinos nesta nossa casa que seja chama planeta Terra e os animais são nossos companheiros de jornada e não competem conosco. 

A sociedade mundial, desde os primórdios dos tempos,sempre subestimou os peixes, vendo-os como seres descartáveis e bens de consumo. Naturalmente, que não havia interesse na divulgação do sofrimento animal, pois a conceituação antropocêntrica sempre teve raízes fortes e fincadas na soberba humana e modificar este paradigma exige muita dedicação e paciência. Não é fácil modificar valor cultural milenar.

Mas, os tempos são outros e o conhecimento, a informação qualificada é acessível a quem quer que seja, bastando haver interesse para a própria reforma de consciência.  A ontologia ou estudo de cada ser em suas particularidades ganha força e não podemos fechar os olhos para esta realidade alvissareira, reformadora, principalmente, na causa que abraço, a dos animais. 

            UNIVERSIDADE QUENN’s BELFAST COMPROVA A SENCIÊNCIA DOS PEIXES

Hoje, sabemos que peixes têm áreas sensíveis por trás das brânquias, caracterizando a senciência de cada espécie.  Na verdade, pesquisadores da Universidade de Queen’s Belfast comprovaram cientificamente e à luz de proficientes estudos tais sensibilidades, chegando a esta conclusão, espetando agulhas  nestas áreas, gerando mensagens neuroniais transmitidas ao telencéfalo, a mesma região do cérebro onde os sinais são processados em todos os demais  animais.  O polvo também tem esta sensibilidade. Na verdade, todos os animais têm sensibilidades e percebem, inclusive, o medo, tendo consciência. Não há mais dúvida sobre isso! 

Assim, fica evidente que áreas superiores do cérebro atestam a dor dos peixes, o medo quando pescados e que a fisgada que sentem não é mero instinto como se pensava anteriormente. Eles sentem como todos nós, por que então persegui-los?  

Há outros estudos científicos que comprovam que alguns peixes levam muitos minutos para morrer. 

                                          JESUS DE NAZARÉ E OS PEIXES 

Alude-se que Jesus ensinou os pescadores a pescar em abundância.  Não pretendo entrar muito no mérito da discussão, afinal, não me cabe discutir crença religiosa. Agora, no contexto científico, há uma explicação interessante que pode desconfigurar este contexto de entendimento.

A palavra peixe foi adicionada à história cristã por escribas gregos e etimologicamente “ixous” ou peixe é um acróstico que significa literalmente Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador.

Outros estudiosos entendem que a tradução da palavra do grego para o inglês foi de forma errônea – “fishweed”  que significa alga seca.  

Também, após a crucificação, durante muitas décadas o Cristianismo e sua prática religiosa fora proibida em Jerusalém, Nazaré, na Galileia e havia uma espécie de código ou identificação entre cristãos – quando dois ou mais cristãos conversavam e havia similaridade em suas ideias “cristãs”, um deles desenhava no chão uma meia  lua; se o outro fosse cristão, desenhava outra, fechando o desenho, mostrando um peixe.

Portanto, a questão de Jesus ensinar a pescar pode ter sido uma metáfora – pescar novos cristãos.

                                               EDUCAR PARA MUDAR 

 Conceitua-se que os animais, no caso especial, os peixes nasceram para nos alimentar, segundo preceitos antigos relacionados às religiões dominantes.  Todavia, faz-se necessária a lembrança que durante a época de Jesus e período após sua crucificação, o peixe teve sentido metafórico, ou seja, representava o símbolo do Cristianismo.  Quando duas ou mais pessoas conversavam entre si e demonstravam inclinação cristã, um deles desenhava no chão uma meia lua.  Se o outro ou outros fossem cristãos, desenhavam outra metade, desenhando na verdade um peixe.

À medida que tomamos ciência das verdades existentes em relação à sensibilidade dos animais, o bom senso convida-nos a rever conceitos em relação a eles.  Precisamos reformar paradigmas comportamentais em relação à fauna, tornarmo-nos melhores, mais respeitadores  à vida em suas manifestações, afinal,não somos meros espectadores no teatro que tem como enredo a arte de viver, mas atores protagonistas e a fauna e a flora fazem parte desta encenação.

Não entendo a concepção  antropocêntrica nos dias atuais  – vejo a vida com os olhos da bondade e respeito às demais manifestações, afinal, quem maltrata animais ainda está muito distante da evolução.  E precisamos evoluir para a vida ser mais harmoniosa, distante daquilo que é desprezível, afinal, sofrimento gera dor e dor precisa ser evitada, neste caso específico, com educação e vontade de rever os próprios valores. 

 Gilberto Pinheiro,  jornalista, escritor, palestrante em escolas   e universidades sobre a senciência dos animais