Notícias | 19 de abril de 2015 16:06

Educar para frear a crueldade contra os animais

* Artigo de Gilberto Pinheiro

Um dos princípios elementares para a plenitude da vida  humana  e pacificação de sua alma é respeitar seu semelhante, assim como preservar o meio ambiente, ecossistemas e toda a fauna existente na Terra.  O ser humano educado  apoia-se em grandezas éticas e, consequentemente, exemplares, e, muitas vezes, são estes os habilitados à reforma pelo bem da vida em nosso planeta.

Muitas personalidades surgiram no decorrer do tempo  edificando a vida, tanto nos ramos científico, filosófico, humanista, religioso,  jurídico, etc. Assim, cabe-nos dar continuidade, buscar o equilíbrio nas decisões e ensinamentos, inspirarmo-nos no que há de melhor para que a vida continue a se manifestar com toda sua  exuberância e possamos imaginar um futuro melhor para as próximas gerações, inclusive, no contexto do reino animal que precisa ser preservado.  

Costumo destacar em minhas palestras nas escolas e universidades que  não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará uma máquina utilizável, mas não uma personalidade.  É necessário que se adquira um sentimento, o que é belo e do que é moralmente correto para que a vida se manifeste de forma harmoniosa e desejável.   

 

                                        PRECISAMOS REFLETIR SOBRE O DIREITO À VIDA ANIMAL 

 

As agressões aos animais são amplas e diversas e  precisam sair do âmbito “esportivo”.  É inadmissível que em pleno terceiro milênio, ainda haja tais práticas destruidoras, comprometendo a vida.  A repercussão da causa animal traz a reboque a indignação, a necessária reflexão, mudança nas leis e reforma de paradigmas.  Toda a sociedade precisa ficar ciente do que ocorre com os animais, a crueldade sem limites que desafia o bom senso causa-nos perplexidade.

Tom Regan, professor emérito de Filosofia na Universidade da Carolina do Norte, publicou o livro Jaulas Vazias,  destacando o direito à vida de todos os animais, a insólita crueldade em circos com os animais sendo torturados para aprender a obedecer a comandos de seus tratadores.  Sabemos que  a crueldade contra eles vem de longa data e não podemos mais aceitar  tais cenários de horror.

Peter Singer também filósofo e professor na Universidade de Princenton, nos EUA, publicou o livro  Libertação Animal em 1975, destacando a questão ética, criticando, inclusive, a tradição filosófica contextualizada no antropocentrismo, uma visão sectária que não leva em consideração a vida deles.  Defende o princípio da igualdade no contexto dor/sofrimento dos animais,colocando o homem e os animais no mesmo direito, pois ambos sentem dor.   É isso que precisa ser levado em consideração por todos.

A senciência deles é o pontapé inicial para mudança de todos os paradigmas relacionados aos animais, não cabendo mais nos dias de hoje o entendimento que nasceram para nos servir como base alimentar, trabalho forçado e lazer, práticas consideradas erradamente  esportivas  como rodeios, vaquejadas, farra do boi, rinhas de animal, pesca esportiva, tráfico, etc.

Cabe às autoridades refletir imparcialmente sobre as referidas questões e entender que a concepção antropocêntrica não tem mais espaço nos dias atuais em que o saber se manifesta.

Renomados professores universitários tais como Donald Broom – Universidade de Cambridge, Marian Dawkins – Universidade de Oxford, Bernard Rollin – Universidade Estadual do Colorado e outros, não apenas reconhecem a senciência dos animais – trabalham intensamente para a diminuição do sofrimento deles, educando, conscientizando, refletindo, convidando alunos à imparcial reflexão sobre o referido tema que não pode mais ser desconsiderado.  

Portanto, precisamos modificar nossos conceitos em relação à vida animal e cabe aos poderes constituídos no Brasil esta responsabilidade com leis e educação nas escolas sobre a vida animal, ou melhor, o Direito dos Animais.  Estou lutando para tentar convencer parlamentares a desenvolver projeto-de-lei sobre o respectivo assunto.

Pode-se adiar decisões mas não é possível  frear a verdade por muito tempo.  É questão de bom senso e paciência. Um dia, chegaremos lá!

 

Gilberto Pinheiro

jornalista, palestrante em escolas e universidades sobre a senciência animal, articulista de sites e jornais sobre o referido assunto