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Escritório da ONU na Rússia ofereceu ao Brasil tecnologia para barragens

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Brumadinho: até agora, 60 pessoas já foram resgatadas sem vida (Isac Nobrega/Reuters)

Após a tragédia em Mariana (MG), o Centro Internacional de Cooperação Industrial da Rússia (CIIC Unido), uma Agência de Desenvolvimento Industrial da Organização das Nações Unidas, com sede em Viena, tentou fazer uma parceria com autoridades brasileiras para monitorar outras barreiras de rejeitos em Minas Gerais que tinham potencial risco de desabamento.

A ideia da agência da ONU era implementar uma espécie de sonda, com tecnologia russa, que é acoplada na estrutura da barragem e detecta qualquer tipo de imperfeição — desde micro rachaduras até estruturas com grande potencial de rompimento.

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A proposta foi apresentada em novembro de 2016 durante uma reunião entre Marcellus Ferreira Pinto, consultor da Unido no Brasil, e Leonardo Deptulski (na época filiado ao PT), na época prefeito de Colatina (ES) e também presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.

Colatina foi considerada pelo CIIC Unido como uma das cidades mais interessadas em fazer com que a tragédia não se repetisse, uma vez que ela foi uma das mais prejudicadas pela lama de Mariana.

Apesar de se localizar a mais de 400 quilômetros da cidade mineira, é lá que nasce o Rio Doce. Por isso, todos os rejeitos que caminharam ao longo do rio, desde Minas Gerais, tiveram como destino final a cidade capixaba.

Mesmo com a proposta de se fazer uma cooperação técnica, com base em tratados internacionais que reduziriam os custos e os impostos do serviço oferecido, a sugestão não foi para frente.

Em entrevista, Marcellus acredita que o novo rompimento da barragem em Brumadinho (MG), que ocorreu na última sexta-feira (25), poderia ter sido evitado se a parceria tivesse sido aproveitada.

Essa tragédia mais recente tem até agora 60 mortos confirmados e quase 300 desaparecidos. A barragem era administrada pela empresa Vale. Especialistas consideram que esse pode ser o pior acidente trabalhista do país.

“A proposta era muito vantajosa: os custos não seriam altos, porque teríamos a legislação do nosso lado. Mas eu não consegui nem apresentar os valores e preços, porque chegou um momento em que os dirigentes pararam até de atender minhas ligações”, diz.

De acordo com o projeto, ao qual a reportagem teve acesso, o CIIC Unido se disponibilizou em trazer os equipamentos e os engenheiros para fazer um diagnóstico in locu sobre as barragens de Minas Gerais.

“A ONU tem inúmeras ações voltadas para os países membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em especial em relação aos recursos hídricos. Agora vemos mais uma tragédia que poderia ter sido evitada”, diz Marcellus.

Procurado pela reportagem, Leonardo Deptulski ainda não se pronunciou sobre o caso. O texto será atualizado com seu posicionamento.

Brasil negou inspeção da ONU

Em 2015, o governo brasileiro não autorizou a viagem de um relator da ONU para avaliar a situação das barragens e do meio ambiente, depois do desastre de Mariana (MG) em 2015.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo, o relator da ONU sobre a implicação para os Direitos Humanos da Gestão Ambiental e Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak, contou que “em várias ocasiões” solicitou ao governo o sinal verde para que fizesse uma viagem ao Brasil e, em especial, para a região de Mariana.

Seu objetivo, segundo a reportagem, era avaliar a resposta das autoridades e examinar os riscos ambientais de potenciais novos desastres.

Tecnologia a favor

Em entrevista, Carlos Barreira Martinez, professor de engenharia hidráulica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse não conhecer essa tecnologia em específico, mas pontuou que “o fato de ser sugerida pela ONU não significa que é a melhor solução”.

No entanto, ele aponta que há de fato muitas alternativas tecnológicas que podem ser usadas no monitoramento de barragens.

Ele comparou o sistema atual a um check-up médico em que “a classificação é feita via inspeções visuais e verificação do estado da barragem: se tem pontos com vazamentos, se há pequenos rompimentos, se houve deslocamentos. Tudo isso é instrumentado numa tabela que vai classificando o risco. Mas fazer um check-up não significa que você não pode sair do médico e ter um ataque cardíaco”.

O professor diz que universidades e centros de pesquisa poderiam, junto com as empresas, desenvolver sistemas de análise online em tempo real, através de inteligência artificial, com base em sensores.

“Aí você vai ter na tela do computador de cada empresa um sinal da estrutura que seria como o sinal de um elétron do coração. Começou algum problema, vai ser indicado, e aí você tem tempo pra agir (…) É claro que vai custar dinheiro, e demandar projetos de pesquisa específicos, mas é o preço de ser a maior exploradora de minério de ferro do planeta”.

Fonte: Exame