Notícias | 09 de agosto de 2017 15:04

‘Ser policial no Rio é carregar um atestado de óbito’, diz cabo da PM


Com estatísticas de uma guerra civil, o estado do Rio de Janeiro vive uma verdadeira barbárie. E na linha de frente dessa violência estão os milhares de policiais, tanto militares quanto civis. Em apenas oito meses incompletos, o ano de 2017 já apresenta o estarrecedor número de 93 policiais assassinados. Das vítimas, 20 estavam em serviço e 55 estavam de folga. Já 18 eram oficiais ou praças da reserva. “Como fronteira final, a violência contra os policiais traduz a realidade do cotidiano, no qual todos somos vítimas”, disse a juíza Anna Christina da Silveira Fernandes.

Na última semana aconteceram os mais novos casos, quando o subtenente reformado William dos Santos Pinto, de 54 anos, foi morto em um bar em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, e o sargento Márcio Thomé Ribeiro, de 43 anos, foi atingido por tiros de fuzil em Realengo, na Zona Oeste do Rio.

“Em mais de uma década a frente de uma Vara Criminal, percebo que não há investimento em serviços de inteligência no combate ao crime organizado. Nos limitamos ao confronto. Vejo que policiais são praticamente jogados em áreas conflagradas, sem qualquer preparo para esse tipo de enfrentamento. Não se combate o crime só com o aporte de dinheiro, mas com inteligência e participação da sociedade civil”, afirmou Anna Christina, titular da 1° Vara Criminal de Nova Iguaçu.

Há 10 anos na Polícia Militar, a cabo Flávia Louzada afirmou, em entrevista à Agência Brasil, nunca ter visto tantos colegas mortos como em 2017. “O sentimento é: quando será a minha vez? Será que amanhã eu vou ser assassinada? Ou vou receber a notícia de que mais um policial amigo foi assassinado? Eu amo muito ser policial militar, mas, hoje em dia, ser policial no Rio de Janeiro é carregar um atestado de óbito nas costas.”

Por conta da crise na segurança pública fluminense, o governo federal definiu que desembolsará cerca de R$ 700 milhões para apoiar ações preventivas e de combate ao crime no Estado. A verba deverá ser usada, entre outras finalidades, para pagamento de insumos, como munições e até abastecimento de viaturas.

Em 28 julho, o presidente Michel Temer autorizou, por meio de decreto, o emprego dos militares no Estado do Rio até 31 de dezembro de 2017. Ao todo, cerca de 10 mil agentes federais de segurança atuarão no Rio de Janeiro até o final do ano. Apesar de o prazo, o ministro Raul Jungmann confirmou que a presença das Forças Armadas poderá ser prorrogada até dezembro de 2018.