Notícias | 19 de fevereiro de 2019 14:47

Juíza fala a ‘O Globo’ sobre tentativa de feminicídio no Rio de Janeiro

Juíza Adriana Ramos de Mello | Foto: Reprodução/ Marco Zaoboni

Em entrevista ao jornal “O Globo”, a juíza Adriana Ramos de Mello (1º Juizado da Violência Familiar contra a Mulher) comentou o caso da empresária Elaine Caparróz, 55 anos, espancada durante quatro horas por Vinícius Batista Serra, 27. O crime é investigado como tentativa de feminicídio. A magistrada falou sobre o tipo de agressão sofrida pela vítima.

“É no rosto onde a mulher tem sua representação maior. Agredi-la nesta parte demonstra um desprezo à sua condição de mulher e uma misoginia. Isso é uma característica muito importante para detectar crime de desprezo à mulher por sua condição de gênero. Vemos ainda áreas como genitais e mamárias como alvo das agressões, para que, assim, a mulher não seja mais ‘aceita’ por nenhum homem. O agressor vai diretamente nessa região do corpo que representa a condição feminina, passando esse sentimento de propriedade”, disse Adriana.

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A juíza ressalta que já havia uma relação entre eles, que pode ser considerada afetiva, mesmo que somente virtual. Ainda assim, esse tipo de relação envolve riscos: “Um relacionamento à distância tem essas dificuldades, como a falta de convivência, de conhecer a pessoa a fundo. Com isso, fica difícil dimensionar riscos que pode estar correndo ao lidar com ela. Nas redes, há uma ‘maquiagem’, que pode iludir, e, quando convive, descobre que a pessoa representava um risco iminente”.

Avaliação psiquiátrica

Em depoimento, Vinícius alega que bebeu vinho, dormiu e acordou em um surto psicótico que o fez agredir Elaine. A juíza conta que muitos agressores usam essa “desculpa” para justificar a violência e tentar se livrar da responsabilidade. A estratégia, segundo Adriana, tem sido rejeitada nas sentenças.

“Ele [Vinicius] pode até argumentar isso, e o juiz pode pedir para submetê-lo a avaliação psiquiátrica. Mas, em um primeiro momento, não é justificativa, e, sim, uma forma de desqualificar a gravidade dos fatos de tamanha crueldade. Isso não é doença, é crime”, comentou a juíza. Leia aqui a reportagem completa.

Agressão no primeiro encontro

A empresária e paisagista Elaine Caparróz conheceu Vinicius Batista Serra pelo Instagram. Eles conversaram por oito meses antes do primeiro encontro, ocorrido no último fim de semana na residência da vítima, na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio).

Elaine conta que Serra pediu para que dormissem abraçados. Depois de cair no sono, ela acordou com o homem esmurrando seu rosto. Além de ser xingada, ela foi atacada com chutes e mordidas, quando tentava proteger o rosto dos socos do agressor, que a arrastou pelo chão do apartamento. Segundo relatos de vizinhos, as agressões começaram na madrugada de sábado e pararam quando um segurança do condomínio apareceu no apartamento.

A prisão em flagrante de Serra foi convertida em preventiva pelo juiz Alex Quaresma Ravache, que presidiu a audiência na Central de Audiência de Custódia (Ceac) do TJ-RJ. O magistrado determinou o encaminhamento do acusado para avaliação médica psiquiátrica.