Notícias | 27 de novembro de 2012 13:07

Desembargadora Leila Mariano concede entrevista ao jornal O Dia sobre combate à violência escolar

O jornal O Dia publicou no último domingo (25) entrevista com a desembargadora Leila Maria Carrilo Cavalcante Ribeiro Mariano, diretora-geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio (Emerj). No texto, a magistrada fala sobre a tentativa de reduzir o aumento da violência escolar, principalmente em casos de bullying, através do projeto “ Curso de Mediação Escolar para pais e educadores na Emerj”, elaborado por ela em 2011. A iniciativa concedeu, este ano, à desembargadora uma Menção Honrosa no Prêmio Innovare, que identifica e premia práticas realizadas por membros do Judiciário, da Advocacia e do Ministério Público, em prol da melhoria da prestação jurisdicional e da modernização da Justiça Brasileira. “Hoje há uma intolerância generalizada. Precisamos resolver os conflitos conversando dentro da escola”, explica a magistrada.

Confira a entrevista na íntegra:

O DIA: Como surgiu a ideia de oferecer um curso de mediação de conflitos escolares?

LEILA: — Depois da tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, que resultou na morte de 12 estudantes por um atirador, que foi vítima de bullying, a Escola de Magistratura (Emerj) reuniu educadores, pais, advogados para discutir o problema. Vários colégios se interessaram pelo tema e então decidimos montar o curso de mediação para capacitar professores nessa primeira fase, e os alunos, em um segundo momento.


Desembargadora Leila Mariano, diretora-geral da Emerj | Foto: Agência O Dia

 

O DIA: Como surgiu a ideia de oferecer um curso de mediação de conflitos escolares?

LEILA: — Depois da tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, que resultou na morte de 12 estudantes por um atirador, que foi vítima de bullying, a Escola de Magistratura (Emerj) reuniu educadores, pais, advogados para discutir o problema. Vários colégios se interessaram pelo tema e então decidimos montar o curso de mediação para capacitar professores nessa primeira fase, e os alunos, em um segundo momento.

O que é ensinado no curso para os educadores?

Eles aprendem a lidar com situações difíceis, em que há descontrole emocional, embriaguez e desrespeito das partes, conhecem diferentes técnicas de comunicação, aprendem a ouvir o outro. Os professores apresentam situações que viveram na escola e o grupo vivencia essa encenação. O curso faz com que cada pessoa se coloque no lugar do outro. Ela alarga seus horizontes e percebe que não é excluindo e perseguindo, mas aceitando e incluindo que vamos viver em paz.

Na sua opinião, qual é a causa para tanta violência no ambiente escolar?

Há uma intolerância generalizada na sociedade. A violência escolar aumentou muito. O jovem não tem noção de dignidade, do respeito pelo outro. Ele extrapola na brincadeira e causa uma dor moral grande. Hoje o mundo é plural. Precisamos aceitar o desigual. Isso é uma questão que a escola precisa trabalhar. São conflitos que antes eram solucionados em casa, na escola, mas hoje tudo vai parar nos tribunais para que a Justiça resolva.

A senhora acredita que, com a internet e as redes sociais, os casos de agressão se acentuaram?

Eu fui professora primária, em 1963, nos Anos Dourados. Naquela época também havia brincadeiras, provocações, o “patinho feio”. Mas quando o aluno ia para casa, a agressão acabava ali. Hoje o espaço cibernético potencializa o dano, que é mais violento e contínuo. A agressão fica 24 horas no ar e atinge um universo muito grande de pessoas. Isso causa traumas profundos nas vítimas.

De que forma as famílias podem ajudar a combater os casos de bullying?

Infelizmente, os pais trabalham e não podem estar presentes o tempo todo para educar seus filhos. As crianças precisam aprender desde cedo a respeitar o próximo. Os pais têm que ficar atentos quanto ao comportamento dos seus filhos, principalmente, na internet. Eles devem ser alertados, porque a responsabilidade civil por qualquer ato dos filhos menores de idade será deles. São eles que vão ter que pagar indenizações às vítimas. A questão é tão séria que está tramitando projeto do Código Penal que pretende criminalizar o bullying. O jovem que vier a cometer ato infracional terá que ser levado à Vara da Infância e Juventude. Se for maior de idade, poderá ir para a prisão.

O curso foi inspirado em modelo argentino de mediação. Como funciona?

Na Argentina, a mediação processual é obrigatória. Nenhum processo vai para a Justiça sem antes passar por mediadores que tentam solucionar o conflito. Esse tipo de mediação representa uma das técnicas mais eficazes de resolução prática de conflitos. Esse modelo de sucesso extravasa para o universo escolar. A ideia do curso é ampliar esse projeto, formando professores que atuem como multiplicadores.

Para montar o curso, a senhora pesquisou episódios de violência escolar que chegaram à Justiça. Que casos chamaram a sua atenção?

Na pesquisa que eu fiz, vi casos extremos como o de um ex-PM que matou o colega da turma da filha. Um outro jovem vai ser julgado sob acusação de matar um estudante que brigou com a namorada dele, em Campo Grande. Até situações como a da estudante que teve o dedo esmagado porque tentou ir ao banheiro e o inspetor fechou a porta da sala para impedir sua saída. E o de um colégio condenado porque a professora arremessou tamanco na aluna.

Situações como essas levaram o Judiciário a registrar, em um relatório, que “a escola é autora, vítima e palco da violência”.

De fato, hoje as agressões vão às últimas consequências. Não só o que bate, mas aquele que exclui e desconsidera o aluno, levando-o ao isolamento e causando nele uma perda de autoestima e até a depressão. Com o projeto, queremos conscientizar pais, professores e alunos para que comecem a resolver seus conflitos conversando dentro da própria escola.

 

Fonte: Assessoria de Imprensa da Amaerj