O Poder Judiciário precisa ter o cuidado de não vitimizar novamente as crianças que sofreram violência sexual, ao tomar seus depoimentos. A juíza Cristiana de Faria Cordeiro (7ª Vara Criminal de Nova Iguaçu e Mesquita) defende que essas crianças e adolescentes tenham o depoimento colhido por profissionais especializados. É o chamado “depoimento especial”, feito por um psicólogo facilitador, treinado para este tipo de abordagem.
“É uma revitimização da criança. Ela foi vítima uma vez e, quando chega ao Poder Judiciário, ao invés de se sentir acolhida, ela se sente acuada e pressionada”, disse Cristiana, referindo-se à não-obrigatoriedade de audiências especiais para tratar casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.
No 7º Encontro Nacional de Juízes da Infância e Juventude – em 8 e 9 de setembro, em Santa Catarina –, a juíza falou sobre a falta de sensibilidade que ocorre, por vezes, durante a oitiva de uma criança ou adolescente vítima de abuso. “É muito sofrimento para as crianças. Fazem perguntas terríveis: ‘Porque você não gritou? Porque você estava ali? Porque você não correu? Porque não falou antes?’”, exemplifica.
O painel de que Cristiana participou, com o desembargador José Antonio Daltoé Cezar (TJ-RS), tratou justamente da importância do depoimento especial de crianças. No Rio de Janeiro, há apenas duas salas especiais para a realização deste tipo de audiência, uma no Tribunal de Justiça da capital e outra em Madureira. O tipo de oitiva é opcional ao juiz. A criança encontra o técnico facilitador em uma sala reservada, e a conversa é transmitida ao vivo para a sala de audiências, onde estão o magistrado, o representante do Ministério Público, o defensor e o acusado.
“Já existe um projeto em tramitação na Câmara para tornar obrigatória a escuta de crianças e adolescentes dessa forma. Para que a criança seja ouvida com um facilitador, nessa modalidade, sem a presença de adultos, sem perguntas diretas feitas por profissionais não capacitados para tratar com crianças que foram vítimas de violência sexual”, disse Cristiana.